Por passa o vento tudo exala.
Conta da miséria que não deixou a casa ser terminada.
O vento tudo conta.
Conta da fome que se fez mais fome,
Conta da sorte que não estava predestinada.
Para o vento tudo é migalha.
A pobreza tem cheiro.
Cheiro da água que não vem, do marido que não tem, da barriga engravidada.
Cheiro do cheiro da alma.
Até a saudade dói mais,
A farinha ficou escassa.
Até a menina é mulher mais cedo.
O vento tudo fala.
A pobreza não dormiu,
A pobreza fica na espreita, na espera anunciada.
Mais um dia passa. Só fica a coragem sertaneja.
O vento tudo espalha.
Cecília Tavares
12.12.2010

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