sexta-feira, fevereiro 25, 2011


LIBERDADE E CONTROLE : MARTHA MEDEIROS.


EU NÃO SEI VOCÊ, MAS EU FAÇO O TIPO controladora, gosto de estar na 
regência de tudo o que me cerca, vivo a ilusão de que sem mim as coisas 
não irão funcionar, me sinto necessária, e isso me agrada e ao mesmo 
tempo me angustia, gostaria de ser mais relaxada e mais resignada diante
da minha falta de controle absoluta: pois é, a gente pensa que tem 
controle sobre tudo, mas não temos controle sobre nada.


Se você curte se auto-investigar, bem-vindo ao clube.


Passei horas, outro dia, conversando com um amigo sobre este instigante 
assunto: temos ou não temos controle sobre nossas vidas? Minha tendência
é acreditar que há um controle ao menos parcial. Senão vejamos: eu 
tenho o poder de fazer escolhas. Posso dizer sim ou não, ir para a 
esquerda ou para a direita. Posso me separar, continuar casada, ter mais
um filho, posso mudar a cor do cabelo, posso abandonar o emprego, 
passar dois meses sozinha numa ilha ou me internar num convento. O que 
me impede?


Você mesma se impede, responde ele.


Tem razão, o problema é que não somos livres. Eu, ao menos, não acredito
em liberdade enquanto houver dependências afetivas. Para ser livres, 
precisaríamos não manter nenhuma espécie de laço com ninguém, o que é 
impensável: abrir mão de pai, mãe, irmãos, filhos, amigos, um amor. É um
preço alto demais para pagar pelo ir-e-vir. Estou de acordo com um 
psicanalista que disse que o máximo de liberdade que podemos almejar é 
escolher a prisão em que queremos viver. Eu escolhi a adorável prisão 
dos afetos.


Meu amigo considera interessante essa história de escolhermos nossas 
prisões, mas diz que isso só prova que somos 100% livres. Poderíamos 
escolher prisão nenhuma, mas nos é intolerável a idéia de viver soltos. 
Então vamos construindo nossas cercas: uma mãe doente a quem não podemos
decepcionar, uma esposa que iria se suicidar se a deixássemos, filhos 
que iriam ficar traumatizados com nosso divórcio, um emprego ótimo que 
seria loucura abandonar, enfim, vamos inventando empecilhos para não 
sair da jaula. A liberdade é desestabilizadora, e queremos tudo, menos a
subversão.

Martha Medeiros

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Perseverar





Confortam aos anjos suas asas
aos deuses seus mitos
aos humanos suas esperanças

Bastam para os rios seus leitos
Para as mães seus leites
Ao amor uma alma

Suportam as flores os espinhos
os caminhos suas pedras
a vida outras tantas envolvidas

Nascemos escravos de completude,
vivemos livres por insistir na chuva que corre por dentro.

Cecília Tavares
23.02.11