domingo, agosto 22, 2010



                                A casa

O reduto que me vejo é passageiro, passante com medo, medo sem ontem e vertente do cedo.
O espaço que me habito é constante assombro, à noite me grito, no dia me escondo-sinto as paredes rebatendo meus sonhos.
Brigo com elas, choro com elas, me emolduro entre as janelas, respiro.
Há um lugar que não visito, sei onde fica sua porta, possuo sua chave, mas não me atrevo.
O medo que impulsiona é o mesmo que faz recuar, a certeza que direciona é a arma que faz atirar contra.
É preciso ter intrepidez para arriscar, ainda não tirei minha roupagem humana, com pele e ossos não vou passar.
Certo dia ele deixou minha alma vagar, voltei atordoada da gama do que em mim não sei contar.
Há certo receio, certo pavor,aquele momento exato que paro,penso, e não vou.
Existe um eu que não conheço,mas quando em sonho vejo,tenho certeza que sou.
Palpitante, pés descalços, paredes me espremendo e pronto - fui
Minha pele caiu no primeiro passo, à vida no segundo levantar dos olhos,
Meu espanto no primeiro sorriso viu a raiz de uma árvore que do chão batido brotava, deixava que a luz da janela batesse,podia até sentir a brisa, observar os pássaros, beber da salgada água que dos meus galhos às vezes brotava.
Livre como nasci, verde, amarela e vermelha como cresci, mordida em partes - foi assim que me vi
Olhei cada folha, toquei marca por marca do tronco- fazendo em círculos minha caminhada...
Voltei para o começo, passei pelo meio e não vi a chegada,
Então tive certeza que não apodreci, mesmo quando fui mutilada.
Como é bom não ser eu para me ter por inteira.

Cecília Tavares
12h17min 22. 08.2010

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