quinta-feira, março 24, 2011


Arroz Doce        


Tenho pedaços de cascas misturadas ao arroz,
Refolgadas para dar leveza ao trato.
Essa panela grande que forma o nosso telhado.
Água fria até o fogo ferver,
Baixas temperaturas condensadas,
pedaços e mais pedaços de almas.
Entendemos-nos roçando essa pele cor de canela,
O cheiro que sobe do fogo...
Moça!
Dai-me todo o tempo da espera, e antes que o dia ganhe à tarde,
Sirva-me.


Cecília Tavares
24.03.2011
21:42

sexta-feira, fevereiro 25, 2011


LIBERDADE E CONTROLE : MARTHA MEDEIROS.


EU NÃO SEI VOCÊ, MAS EU FAÇO O TIPO controladora, gosto de estar na 
regência de tudo o que me cerca, vivo a ilusão de que sem mim as coisas 
não irão funcionar, me sinto necessária, e isso me agrada e ao mesmo 
tempo me angustia, gostaria de ser mais relaxada e mais resignada diante
da minha falta de controle absoluta: pois é, a gente pensa que tem 
controle sobre tudo, mas não temos controle sobre nada.


Se você curte se auto-investigar, bem-vindo ao clube.


Passei horas, outro dia, conversando com um amigo sobre este instigante 
assunto: temos ou não temos controle sobre nossas vidas? Minha tendência
é acreditar que há um controle ao menos parcial. Senão vejamos: eu 
tenho o poder de fazer escolhas. Posso dizer sim ou não, ir para a 
esquerda ou para a direita. Posso me separar, continuar casada, ter mais
um filho, posso mudar a cor do cabelo, posso abandonar o emprego, 
passar dois meses sozinha numa ilha ou me internar num convento. O que 
me impede?


Você mesma se impede, responde ele.


Tem razão, o problema é que não somos livres. Eu, ao menos, não acredito
em liberdade enquanto houver dependências afetivas. Para ser livres, 
precisaríamos não manter nenhuma espécie de laço com ninguém, o que é 
impensável: abrir mão de pai, mãe, irmãos, filhos, amigos, um amor. É um
preço alto demais para pagar pelo ir-e-vir. Estou de acordo com um 
psicanalista que disse que o máximo de liberdade que podemos almejar é 
escolher a prisão em que queremos viver. Eu escolhi a adorável prisão 
dos afetos.


Meu amigo considera interessante essa história de escolhermos nossas 
prisões, mas diz que isso só prova que somos 100% livres. Poderíamos 
escolher prisão nenhuma, mas nos é intolerável a idéia de viver soltos. 
Então vamos construindo nossas cercas: uma mãe doente a quem não podemos
decepcionar, uma esposa que iria se suicidar se a deixássemos, filhos 
que iriam ficar traumatizados com nosso divórcio, um emprego ótimo que 
seria loucura abandonar, enfim, vamos inventando empecilhos para não 
sair da jaula. A liberdade é desestabilizadora, e queremos tudo, menos a
subversão.

Martha Medeiros

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Perseverar





Confortam aos anjos suas asas
aos deuses seus mitos
aos humanos suas esperanças

Bastam para os rios seus leitos
Para as mães seus leites
Ao amor uma alma

Suportam as flores os espinhos
os caminhos suas pedras
a vida outras tantas envolvidas

Nascemos escravos de completude,
vivemos livres por insistir na chuva que corre por dentro.

Cecília Tavares
23.02.11

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Que você viva sempre aqui,
dentro dos sonhos possíveis,
fora das coisas sofridas,
nadando em alegrias fecundas,
sorrindo dentro dos meus lábios.

(Cecília Tavares)

terça-feira, janeiro 25, 2011

Em teu mar




Os sopros são lentos, mas graduais.
As cores são muitas, berrantes, ardidas e pertenças.
Resultantes das nossas leis,
nossas presenças.
Meu corpo em suas mãos, cada pedaço que carrego com fome das tuas entradas,
lábios em outros lábios, tão meus e mais seus quando acaricias com a língua.
Medos em dedos,
Cedo.
Tudo parece cedo demais,
rápido como as ondas que chegam e antes que vejamos partir, são outras que banham.
Ventos,
você é a tempestade que chegou,
alojou-se,
arrasadoramente minha,
temporal de canções entoadas nos meus dias...
Deixo-te as certezas que dedico,
as armas que podemos lutar unidas,
o despertar desse amor faz da menina sua contra partida,
da mulher uma flor mais atrevida,
da semente uma árvore germinando...

Cecília Tavares
24.01.2011

quarta-feira, janeiro 12, 2011







Minha mulher, meu amor, meu lugar
Antes de você chegar
Era tudo saudade
Meu canto mudo no ar
Faz do seu nome hoje o céu da cidade....

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Para um dia simples,nada como a simplicidade de Drummond.







CIDADEZINHA QUALQUER
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, janeiro 07, 2011

segunda-feira, janeiro 03, 2011

Pensamento para 2011



"Trabalhe como se você não precisasse do dinheiro,

Ame como se você nunca tivesse sido magoado, e dance como
se ninguém estivesse te observando.
O maior risco da vida é não fazer nada."

(M.M)


quinta-feira, dezembro 30, 2010

sexta-feira, dezembro 24, 2010

quinta-feira, dezembro 23, 2010

Não quero saber do lirismo que não é libertação

Estou farto do lirismo comedido 
Do lirismo bem comportado 
Do lirismo funcionário público com livro de ponto espediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.


Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.


Abaixo os puristas.
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis


Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.


De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar &agraves mulheres, etc.


Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare.


- Não quero saber do lirismo que não é libertação.

(M.Bandeira)

quarta-feira, dezembro 22, 2010

Ao amor que não ficou

Minha primeira lágrima caiu dentro dos teus olhos.
Tive medo de a enxugar: para não saberes que havia caído.
No dia seguinte, estavas imóvel, na tua forma definitiva,
modelada pela noite, pelas estrelas, pelas, minhas mãos.
Exalava-se de ti o mesmo frio do orvalho; a mesma
claridade da lua.
Vi aquele dia levantar-se inutilmente para as tuas
pálpebras, e a voz dos pássaros e das águas correr
-sem que a recolhessem teus ouvidos inertes.
Onde ficou teu outro corpo? Na parede? Nos imóveis?
no teto?
Inclinei-me sobre o teu rosto, absoluta, como um espelho,
E tristemente te procurava.
Mas também isso foi inútil, como tudo mais.

Neste mês, as cigarras cantam
e os trovões caminham por cima da terra,
agarrados ao sol.
Neste mês, ao cair da tarde, a chuva corre pelas montanhas,
e depois a noite é mais clara,
e o canto dos grilos faz palpitar o cheiro molhado do chão.
Mas tudo é inútil,
porque os teus ouvidos estão como conchas vazias,
e a tua narina imóvel
não recebe mais notícia
do mundo que circula no vento.
Neste mês, sobre as frutas maduras cai o beijo áspero
das vespas...
-e o arrulho dos pássaros encrespa a sombra,
como água que borbulha.
Neste mês, abrem-se cravos de perfume profundo e obscuro;
a areia queima, branca e seca.
junto ao mar lampejante;
de cada fronte desce uma lágrima de calor.
Mas tudo é inútil,
porque estás encostada à terra fresca,
e os teus olhos não buscam mais lugares
nesta paisagem luminosa,
e as tuas mãos não se arredondam já
para a colheita nem para a carícia.
Neste mês, começa o ano, de novo,
e eu queria abraçar-te.
Mas tudo é inútil:
eu e tu sabemos que é inútil que o ano comece.

Minha tristeza é não poder mostrar-te as nuvens brancas,
e as flores novas como aroma em brasa,
com as coroas crepitantes de abelhas.
Teus olhos sorririam,
agradecendo a Deus o céu e a terra:
eu sentiria teu coração feliz
como um campo onde choveu.
Minha tristeza é não poder acompanhar contigo
o desenho das pombas voantes,
o destino dos trens pelas montanhas,
e o brilho tênue de cada estrela
brotando à margem do crepúsculo.
Tomarias o luar nas tuas mãos,
fortes e simples como as pedras,
e dirias apenas: “Como vem tão clarinho!”
E nesse luar das tuas mãos se banharia a minha vida,
sem perturbar sua claridade,
mas também sem diminuir minha tristeza.

Escuto a chuva batendo nas folhas, pingo a pingo.
Mas há um caminho de sol entre as nuvens escuras.
E as cigarras sobre as resinas continuam cantando.
Tu percorrias o céu com teus olhos nevoentos,
e calcularias o sol de amanhã,
e a sorte oculta de cada planta.
É amanhã descerias toda coberta de branco,
brilharias à luz como o sal e a cânfora,
tomarias na mão os frutos do limoeiro, tão verdes,
e entre o veludo da vinha, verias armar-se o cristal dos bagos.
E olharias o sol subindo ao céu com asas de fogo.
Tuas mãos e a terra secariam bruscamente.
Em teu rosto, como no chão,
haveria flores vermelhas abertas.
Dentro do teu coração, porém, estavam as fontes frescas,
sussurrando.
E os canteiros viam-te passar
como a nuvem mais branca do dia.

Um jardineiro desconhecido se ocupará da simetria
desse pequeno mundo em que estás.
Suas mãos vivas caminharão acima das tuas, em descanso,
das tuas que calculavam primaveras e outonos,
fechadas em sementes e escondidos na flor!
Tua voz sem corpo estará comandando,
entre terra e água,
o aconchego das raízes tenras,
a ordenação das pétalas nascentes.
À margem desta pedra que te cerca,
o rosto das flores inclinará sua narrativa:
história dos grandes luares,
crescimento e morte dos campos,
giros e músicas de pássaros,
arabescos de libélulas roxas e verdes.
Conversareis longamente,
em vossa linguagem inviolável.
Os anjos de mármore ficarão para sempre ouvindo:
que eles também falam em silêncio.
Mas a mim – se te chamar, se chorar – não me ouvirás
por mais perto que venha, não sou mais que uma sombra
caminhando em redor de uma fortaleza.
Queria deixar-te aqui as imagens do mundo que amaste:
o mar com seus peixes e suas barcas;
os pomares com cestos derramados de frutos;
os jardins de malva e trevo, com seus perfumes
brancos e vermelhos.
E aquela estrela maior, que a noite levava na mão direita.
E o sorriso de uma alegria que eu não tive,
mas te dava.

Tudo cabe aqui dentro:
vejo tua casa, tuas quintas de fruta,
as mulas deixando descarregarem seirões repletos,
e os cães de nomes antigos
ladrando majestosamente
para a noite aproximada.
Tange a atafona sobre uma cantiga arcaica:
e os fusos ainda vão enrolando o fio
para a camisa, para a toalha, para o lençol.
Nesse fio vai o campo onde o vento saltou.
Vai o campo onde a noite deixou seu sono orvalhado.
Vai o sol com suas vestimentas de ouro
cavalgando esse imenso gavião do céu.
Tudo cabe aqui dentro:
teu corpo era um espelho pensante do universo.
E olhavas para essa imagem, clarividente e comovida.
Foi do barco das flores, o teu rosto terreno,
e uns líquens de noite sem luzes
se enrolaram em tua cabeça de deusa rústica.
Mas puseram-te numa praia de onde os barcos saíam
para perderem-se.
Então, teus braços se abriram,
querendo levar-te mais longe:
porque eras a que salvava.
E ficaste com um pouco de asas.
Teus olhos, porém, mediram a flutuação do caminho.
Por isso, tua testa se vincou de alto a baixo,
e tuas pálpebras meigas
se cobriram de cinza.

O crepúsculo é este sossego do céu
com suas nuvens paralelas
e uma última cor penetrando nas árvores
até os pássaros.
É esta curva dos pombos, rente aos telhados,
este cantar de galos e rolas, muito longe;
e, mais longe, o abrolhar de estrelas brancas,
ainda sem luz.
Mas não era só isto, o crepúsculo:
faltam os teus dois braços numa janela, sobre flores,
e em tuas mãos o teu rosto,
aprendendo com as nuvens a sorte das transformações.
Faltam teus olhos com ilhas, mares, viagens, povos,
tua boca, onde a passagem da vida
tinha deixado uma doçura triste,
que dispensava palavras.
Ah, falta o silêncio que estava entre nós,
e olhava a tarde, também.
Nele vivia o teu amor por mim,
obrigatório e secreto.
Igual à face da Natureza:
evidente, e sem definição.
Tudo em ti era uma ausência que se demorava:
uma despedida pronta a cumprir-se.
Sentindo-o, cobria minhas lágrimas com um riso doido.
Agora, tenho medo que não visses
o que havia por detrás dele.
Aqui está meu rosto verdadeiro,
defronte do crepúsculo que não alcançaste
Abre o túmulo, e olha-me:
dize-me qual de nós morreu mais.

Hoje! Hoje de sol e bruma,
com este silencioso calor sobre as pedras e as folhas!
Hoje! sem cigarras nem pássaros.
Gravemente. Altamente.
Com flores abafadas pelo caminho,
entre essas máscaras de bronze e mármore
eterno rosto da terra.
Hoje.
Quanto tempo passou entre a nossa mútua espera!
Tu, paciente e inutilizada,
cantando as horas que te desfaziam.
Meus olhos repetindo essas tuas horas heróicas,
no brotar e morrer desta última primavera
que te enfeitou.
Oh, a montanha de terra que agora vão tirando do teu peito!
Alegra-te, que aqui estou,
fiel, neste encontro,
como se do modo antigo vivesses
ou pudesses, com a minha chegada, reviver.
Alegra-te, que já se desprendem em tábuas que te fecharam,
como se desprendeu o corpo
em que aprendeste longamente a sofrer.
E, como o áspero ruído da pá cessou neste instante,
ouve o amplo e difuso rumor da cidade em que continuo,
-tu, que resides no tempo, no tempo unânime!
Ouve-o e relembra
não as estampas humanas: mas as cores do céu e da terra,
o calor do sol,
a aceitação das nuvens,
o grato deslizar das águas dóceis,
tudo o que amamos juntas.
Tudo em que me dispersei como te dispersaste.
E mais esse perfume de eternidade,
intocável e secreto,
que o giro do universo não perturba.
Apenas, não podemos correr, agora,
uma para a outra.
Não sofras, por não te poderes levantar
do abismo em que te reclinas:
não sofras, também,
se um pouco de choro se debruça nos meus olhos,
procurando-te.
Não te importes que escute cair,
no zinco desta humilde caixa,
teu crânio, tuas vértebras,
teus ossos todos, um por um...
Pés que caminhavam comigo,
mãos que me iam levando,
peito do antigo sono,
cabeça do olhar e do sorriso...
Não te importes. Não te importes...
Na verdade, tu vens como eu te queria inventar:
e de braço dado desceremos por entre pedras e flores.
Posso levar-te ao colo, também,
pois na verdade estás mais leve que uma criança.
- Tanta terra deixaste porém sobre o meu peito!
irás dizendo, sem queixa,
apenas como recordação.
E eu, como recordação, te direi:
- Pesaria tanto quanto o coração que tiveste,
o coração que herdei?
Ah, mas que palavras podem os vivos dizer aos mortos?
E hoje era o teu dia de festa
Meu presente é buscar-te:
Não para vires comigo:
para te encontrares com os que, antes de mim,
vieste buscar, outrora.
Com menos palavras, apenas.
Com o mesmo número de lágrimas.
Foi lição tua chorar pouco,
para sofrer mais.
Aprendi-a demasiadamente.
Aqui estamos, hoje.
Com este dia grave, de sol velado.
De calor silencioso.
Todas as estátuas ardendo.
As folhas, sem um tremor.
Não tens fala, nem movimento nem corpo.
E eu te reconheço.
Ah, mas a mim, a mim.
Quem sabe se me poderás reconhecer!


Os oito poemas que compõem “Elegia”estão colocados ao
final do volume Mar Absoluto (1945), e uma informação
após o título indica as datas de 1933-1937, anos durante os
quais a “Elegia” teria sido escrita.


©Cecília Meireles
in Mar Absoluto, 1945


sexta-feira, dezembro 17, 2010







"Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo..."


Álvaro de Campos 

domingo, dezembro 12, 2010

Todas as forças




A menina conta, os velhos contam, as mulheres africanas evocam.
Aos orixás peço licença poética,
Aos ancestrais irmãos peço sua dança,
Aos meninos cristãos peço sua devoção.

Eu canto, tu cantas, elas fazem seus rituais.
Os guerreiros negros suas forças,
As mulheres pretas suas armas,
A Iansã proteção.

Os pais, filhos e irmãos convocam para libertação.
Vamos ouvir os cantos,
Vamos ouvir os brancos,
Vamos sem medo pisar este chão.

Vamos nos dar mãos de cores distintas,
E na hora do eco
Uma só benção!

Cecília Tavares
12.12.10

O vento



Por passa o vento tudo exala.
Conta da miséria que não deixou a casa ser terminada.
O vento tudo conta.
Conta da fome que se fez mais fome,
Conta da sorte que não estava predestinada.
Para o vento tudo é migalha.
A pobreza tem cheiro.
Cheiro da água que não vem, do marido que não tem, da barriga engravidada.
Cheiro do cheiro da alma.
Até a saudade dói mais,
A farinha ficou escassa.
Até a menina é mulher mais cedo.
O vento tudo fala.
A pobreza não dormiu,
A pobreza fica na espreita, na espera anunciada.
Mais um dia passa. Só fica a coragem sertaneja.
O vento tudo espalha.


Cecília Tavares
12.12.2010

sexta-feira, dezembro 10, 2010

Sentimentos de um dia nutrido por cultura.







Certas leituras,certos caminhos,certas pessoas...
Como viver sem LITERATURA?
Não sei responder,apenas não imagino tamanha afronta com à arte.
(Cecília Tavares)



“Atravesso o rio da existência deixando que as águas me
levem, enquanto dou braçadas em direção ao norte dos
meus sonhos. Sonhar foi sempre a clave da minha condição
humana. Sem o devaneio – esta arte de inventar o
impossível –, invalido meu destino na terra. Cancelo Deus e
os meus semelhantes. Envelheço sem jamais ter sido
jovem.”
(Nélida Piñon)


“Eu pego num livro velho com reverência; sinto nele a
substância inerente a toda a criação do espírito: o desejo de
alongar as fronteiras da existência pela reflexão ou pelo
sonho acordado.”
(Carlos Drummond de Andrade)


“Todo símbolo tem uma carne, todo sonho uma realidade.”
(Oscar Milosz)

terça-feira, dezembro 07, 2010

Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens.
Fernando Pessoa



SINGELA
 
Entrego-te os sorrisos soltos,
as risadas mais leves,
entrego-te a liberdade.

    momentos de nudez dos meus pensamentos,
penso nas suas palavras,
                                              não era medo, mas quem sabe espanto...
                                  Além do toque dos corpos, 
                                                   além do limiar que nos encontramos,
                                               acendeu caminhos embora houvesse frio.

                                                Você deixou pássaros no meu quintal,
                                           sorrisos na minha janela,
                                     brilhos,
                                    mas,
                                                  perto das línguas, palavras são tolas.



Cecília Tavares
20h25min.
07.12.10

sábado, novembro 06, 2010




Sei que me enquadro em qualquer moldura.
Sei de todos os meus papéis nesse cenário,mas não encontrei todos os palcos para representar.
Somos artistas em pleno encontro natural, em metamorfoses constantes e subversivas. 

Somos o que podemos confundir com arte ou o oposto dela, mas seremos sempre uma poesia, 
em qualquer época ou parte, 
em qualquer cidade do mundo, 

sou meu guia, 
além do hoje. 

Corrente de ferros retorcidos e ácidos,
ferida em tecido corpóreo, 
fenômeno cortante da língua

Sou pontual comigo.
Sirvo-me ainda quente.


Cecília Tavares
06.11.2010